O Oceano, fonte de vida, está frágil e desequilibrado

Na ASPEA continuamos preocupados com o Oceano, o berço da Vida. Todos reconhecemos que é necessário fazer algo para mudar a situação, e a mudança começa dentro de nós.O Oceano, fonte de vida, está frágil, desequilibrado. De tanto que já se fala sobre o assunto, parece que se torna um lugar comum, aceitável que assim seja.

A poluição marinha, a degradação dos ecossistemas, o esgotamento dos stocks de pescado e a acidificação da água do mar, são os principais problemas identificados e que têm consequências inimagináveis para o planeta e para a humanidade. Talvez por o problema ser tão grande como o próprio oceano, mas ao mesmo tempo um pouco invisível para os menos atentos, haja um sentimento generalizado de impotência e apatia que nos assombra e que nos faz assobiar para o lado. Talvez queiramos acreditar que o problema se resolve por si próprio, que não é assim tão grave ou que alguém tratará do assunto. Na verdade, continuamos a usufruir de lindas praias, a deliciar-nos com umas belas sardinhas assadas e até nos apraz águas mais quentes para mergulharmos nos destinos paradisíacos, por isso, aparentemente está tudo bem. Ou será que não?

Os recifes de coral estão em perigo. Na água do mar acima dos 29°C, os pólipos não resistem, porque a simbiose que sustenta a sua vida, deixa de ser possível. Resta a sua carcaça, a estrutura calcária, branca e estéril, inanimada, dá-se o branqueamento dos corais, ou “bleaching”. Perde-se igualmente a infinidade de vida que aqui encontrava alimento e abrigo, e também a beleza colorida e até a economia associada ao turismo subaquático. Uma consequência direta do aquecimento da água do mar, associada ao aquecimento global, motivado pelas emissões de CO2 das nossas fábricas, dos nossos transportes e da produção de energia da qual somos reféns.

Aquele camarão delicioso que compramos no supermercado e que nem nos preocupamos a ler o rótulo, foi capturado por pesca de arrasto. A pesca de arrasto, em uma única pescaria, destrói o equivalente a 5000 campos de futebol, levando consigo corais, recifes rochosos e todos os organismos que lá vivem. O mais absurdo, é que apenas se aproveitam 30% das espécies capturadas e o rejeitado acaba por morrer sem ser comercializado ou consumido. Será que se esta situação fosse mais visível, continuaríamos a ignorar o que se passa, ou ficaríamos indignados e tentaríamos uma solução para acabar com este flagelo?

Infelizmente, a situação é grave e, ano após ano, assistimos ao repetir dos mesmos comportamentos que estão na origem de um oceano doente. É por isso que acreditamos na Educação Ambiental e na importância da Literacia Marinha para construirmos uma sociedade mais consciente e civilizada.

Na ASPEA, continuamos a dedicar-nos a atividades de educação ambiental sobre os problemas que ameaçam o Oceano e quais as medidas que cada um de nós pode adotar para fazer face a esta situação. Foi assim que nasceu o Programa Pedagógico EducOceano que aborda as temáticas das alterações climáticas, consumo responsável de pescado, lixo marinho e biodiversidade. São atividades dinâmicas e hands on direcionadas para alunos do ensino pré-escolar, 1º ciclo e secundário.

Paralelamente, no âmbito do tema da investigação e literacia marinha, somos parceiros de um projeto financiado pela União Europeia, o BlueNights, que trabalhamos com alunos do ensino secundário, em parceria com Itália, Malta, Roménia e França. Entre as atividades, organizamos visitas nas poças de maré, science cafes e atividades com investigadores de ciência marinha. Este ano assinalamos o Dia Mundial do Oceano com um desafio de ilustração dirigido às escolas do 1º ciclo, que pode ser consultado aqui.

Muito há ainda a fazer. É sabido de que quando o oceano começou a dar sinais do seu desequilíbrio, há muito que o problema se tinha instalado. Teremos de ser céleres nas decisões e bem conscientes da sua importância. Todos podemos fazer algo, todos os dias, e ainda vamos a tempo. Evitar consumir pescado proveniente de pesca de arrasto, reciclar, adotar soluções energéticas provenientes de energias alternativas ou acabar com o uso de plástico descartável, são algumas das soluções que poderá adotar no seu dia-a-dia e que farão diferença na saúde do oceano.

Fomos grandes e pioneiros a atravessar o oceano, agora temos um desafio igualmente grande pela frente, protegê-lo, e para isso precisamos de todos a bordo.

Rute Candeias
Bióloga Marinha e Educadora Ambiental
Coordenadora do Programa EducOceano