Educação que dá esperança
No dia 08 de abril, após a abertura das XXII Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental, teve lugar a conferência “Transformar em comunidade: Processos educativos ambientais para a construção de uma cultura de sustentabilidade”. Moderada por Ivone Ferreira, professora e coordenadora do Curso de Comunicação Social do Instituto Superior de Educação de Viseu, o conferencista convidado foi Gérman Vargas Callejas, professor de Teoria e História da Educação da Universidade de Santiago de Compostela.
Gérman salientou uma variedade de conceitos ligados à Educação Ambiental, alertando para o facto de alguns deles não serem totalmente adequados, como por exemplo o termo desenvolvimento, que é um “conceito imposto por meio da violência, modernização, colonização do pensamento, da cultura e da economia.”
Destacando a necessidade de alterar conceitos e práticas de desenvolvimento sustentável para a cultura sustentável, ou seja, viver bem com os outros e com o mundo, sendo que o instrumento e a estratégia mais adequada é a educação. Umas das chaves mais importantes para isto acontecer é: “questionar a normalidade, incidir no carácter político da Educação Ambiental, educar para agir e planificar e desenhar uma sociedade sustentável”.
No final da conferência Gérman Vargas Callejas cedeu uma entrevista aos Jovens Repórteres ASPEA. Veja abaixo como foi essa conversa:
O que fez despertar o seu interesse pela Educação Ambiental?
Eu sou de uma comunidade indigna, Quéchua, e toda a minha infância vivi num meio rural, com uma convivência bastante próxima com a Natureza. Mais tarde mudei-me para uma cidade e contactava um pouco menos com esse mundo natural. Nesse mundo natural conseguia sentir sobretudo a relação próxima com os animais e observar as paisagens, e penso que dai vem a base ou início da ideia da Educação Ambiental como uma forma sistemática de trabalhar, de conhecer, de ensinar e de aprender para cuidar deste Mundo.
Na sua visão, qual a importância da Educação Ambiental?
A Educação Ambiental é importante para mudar o Mundo. Normalmente não se dá essa importância real mas é importante, porque só a partir de toda a forma de Educação é que as pessoas ficam consciente da realidade, só através da Educação aprendemos e capacitamo-nos para fazer as coisas. A Educação não é só escolar mas mesmo na vida, educação na rua e educação na família. E a educação ambiental é interessante porque se orienta estritamente a ver e a analisar as relações que tem o ser humano com a Natureza. E essa é a sua importância, mudar, criticar e melhorar essas relações, e para isso é fundamental educar ambientalmente.
Quais são os obstáculos que surgem a quem se preocupa com a Educação Ambiental?
O obstáculo principal para a Educação Ambiental é a escassa formação que têm os educadores ambientais. Os educadores ambientais em geral não têm a formação, a consciência e o fundamento para levar bem estes processos, assim sendo, fazemos ações que não atuam de uma forma profunda na transformação dos valores, dos comportamentos e das pessoas. Esse é um dos principais obstáculos. Outro dos obstáculos, são os interesses económicos. Ou seja, não lhes interessa que as pessoas possam pensar de outra forma, que alterem os seus modos de vida ou que alteremos as nossas civilizações, o que interessa é continuar e aguentar como estamos até ver onde chegamos.
Reparámos que o senhor é bastante viajado por diferentes continentes, como África, América Latina e a Europa. O que é que tem observado em comum e diferente na área da Educação Ambiental entre esses países?
Na área da Educação Ambiental, por exemplo, no Brasil a Educação Ambiental é mais comprometida com a mudança, mais ativa. Na Europa, Portugal e Espanha, é uma Educação Ambiental muito mais contida, são muito menos comprometidos com a ação. E a Educação Ambiental, na América Latina, está muito mais incluída nos problemas da comunidade, no que fazem e no que vivem as pessoas e não como disse anteriormente, não se focam nos macroproblemas aos quais não sabem como agir. Coisa que sucede aqui na Europa, que temos consciência dos macroproblemas mas não sabemos como atuar e como fazer frente a isso.
Tem projetos ou planos para o futuro?
Sim, eu tenho muitos projetos. Por exemplo trabalhar ou propor um projeto de Educação Ambiental para decorrer noutras culturas que não sejam ocidentais, em comunidades indígenas. Ou seja, recuperar práticas e sistematizá-las num formato de conhecimento que se pode compartilhar.
E a infância tem ai um papel fundamental então …
A minha infância condicionou o que eu sou e o que quero ser. E de uma forma geral, também me interessa a Educação Ambiental porque tenho filhos e quero um mundo mais bonito, um mundo melhor, e até talvez um mundo igual ao que tive, e não este mundo como estamos a plantar agora e logicamente é uma motivação para trabalhar neste sentido, pois é uma Educação que dá esperança. Esperança num ser humano melhor, esperança num mundo melhor!
Texto: Andreia Reis e Catarina Gomes