Os desafios da Educação Ambiental em revista nas XXX Jornadas Pedagógicas
As Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental já viajaram por 26 municípios, espalhados por 18 dos 20 distritos portugueses, incluindo as regiões autónomas dos Açores e Madeira. Apenas os distritos de Viana do Castelo e Bragança nunca acolheram uma edição das Jornadas. Nas suas 30 edições, o evento agregou mais de 6.600 participantes (média de 220 por jornada), 93 conferências, 700 comunicações orais breves, entre outras atividades.
Este ano, o evento de âmbito internacional realizou-se entre os dias 19 e 21 de abril, nas Caldas da Rainha, subordinado ao tema “Territórios e Políticas de Proximidade: Desafios e Oportunidades). Ao todo, participaram mais de 230 educadores e especialistas de educação e/ou ambiente, com 23% dos participantes da administração pública local e central, 21% de ONGs e 21% de professores de ensino básico e secundário. A edição deste ano contou com 14% dos participantes provenientes dos países lusófonos e da Galiza, um marco de dois dígitos nunca antes atingido no evento.
Sessão de Encerramento
A Sessão de Resultados e Encaminhamento das Jornadas contou com a presença da vereadora de Educação do Município das Caldas da Rainha, Conceição Henriques. A responsável notou que “a educação não há dúvida nenhuma que é a grande chave [para esta emergência climática] como é para muitas outras questões do mundo. Mas o facto de ser a grande chave é uma verdade praticamente absoluta e as grandes verdades por vezes tornam-se lugares comuns. E os lugares comuns por vezes deixam de fazer sentido”. Tendo em conta isso, alertou para que a solução “de facto, passa pela educação, mas não nos iludamos. É preciso que o poder político a todos os níveis, local, nacional e transnacional saiba ter o seu papel muito atuante”.
Por sua vez, a Comissão Científica, composta por David Ramos Silva, Filomena Cardoso Martins e Pablo Meira Cartea , apresentou o documento com os 12 ‘mandamentos’ de como a educação ambiental pode acelerar a transição climática, que incluem a materialização das “comunidades de cuidado da vida”, as expressões artísticas como instrumento de motivação e criação live para e com a Educação Ambiental e a necessidade de uma Educação Ambiental disruptiva.
As Jornadas e o papel dos Jovens
A sessão de encerramento contou, ainda, com a comunicação oral breve do jovem Alexandre Ferreira, da Escola Secundária Adolfo Portela, que fez uma análise da presença dos jovens nos programas destes últimos 30 anos de jornadas. Foram registadas 38 atividades destinadas/dinamizadas a/por este público jovem, com as comunicações orais breves no topo. O ano com a maior presença foi 2018, com um eixo temático dedicado aos jovens, 5 comunicações orais breves e 2 oficinas pedagógicas sobre os jovens. Desde 2016 que os jovens têm marcado presença anual no programa das Jornadas.
O jovem explica que, tendo em conta esta análise, existe oportunidade de incluir a juventude no tema aglutinador das próximas jornadas, uma vez que nunca foi incluída e acredita que “pudesse ser um fator mobilizador”. Aliado a isso, considera que se deve apostar em parcerias com organizações da Juventude, criar um eixo temático anual ligado à juventude, criar fóruns de discussão sobre os temas destinados a esta faixa etária, entre outros.
Reconhecimento aos que tornaram 30 anos de Jornadas possíveis
O evento contou ainda com uma cerimónia de reconhecimento a todas as pessoas que contribuíram para a fundação e desenvolvimento da nossa associação através dos corpos sociais, colaboradores e voluntários.
Em memória, Ana Matos Almeida, filha de uma das fundadoras, Fátima Almeida, nota que o sentido de missão da sua mãe “contagiava os que estavam à sua volta e o seu legado continuava a guiar-nos e a motivar e lembrando-nos da importância dos nossos esforços coletivos na Educação Ambiental como elemento de transformação social”, notando ainda o papel de todos que ajudaram no sucesso e desenvolvimento da ASPEA e das Jornadas.
“Que o 30º encontro da ASPEA e as jornadas pedagógicas de Educação Ambiental sirvam como um lembrete poderoso de que juntos somos capazes de moldar o nosso futuro e criar um mundo onde a natureza e a humanidade possam prosperar em harmonia. Qual é o teu legado?”, concluiu.
Evento de Disseminação do VIRAL
As XXX Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental, no seu objetivo de impulsionar o que melhor se faz na Educação Ambiental em Portugal, acolheu o Evento de Disseminação do projeto VIRAL. O projeto quer incrementar a monitorização ambiental, desenvolver o trabalho de equipa e o espírito corporativo e aprofundar conhecimentos que já sejam conhecidos da comunidade. O VIRAL é financiado pelo programa Erasmus+ e conta com vários parceiros, entre escolas, como a Escola Profissional de Alte, empresas e organizações não governamentais para o ambiente, como a ASPEA.
No âmbito deste projeto, estão a ser desenvolvidos eventos participativos sobre as alterações climáticas e as preocupações estudantis sobre o tema, formações para docentes e técnicos que queiram adquirir mais conhecimento sobre a Educação Ambiental e formações para os estudantes para se inteirar da real dimensão da emergência climática e de como podem ajudar, através do ativismo jovem e da união de forças com as organizações da sua região.
Na Escola Profissional de Alte, foram envolvidos alunos de todas as turmas, que não só mobilizaram a sua comunidade educativa, como também tiveram a experiência de intercâmbio ambiental.
Deste projeto, resultaram até agora três recursos pedagógicos que podem ser consultados viralproject.org.
A presença insular nas Jornadas
Apesar de grande maioria dos participantes das Jornadas ser proveniente do Continente, temos procurado todos os anos manter uma presença constante das Regiões Autónomas no evento. Este ano, através da mobilização do núcleo dos Açores da associação, a insularidade deixou a sua marca no evento.
O espaço de exposição contou com trabalhos da Carta da Terra elaborado por alunos de escolas açorianas. O núcleo dos Açores promoveu ainda duas oficinas:
- Arte e Ambiente “EcoDesign” - Cada um de nós encontrará função e beleza nos objetos construídos a partir de materiais onde os outros apenas o veem como lixo. Será possível comprar e consumir menos, e criar mais? Este é o grande desafio com o qual todos temos de nos confrontar.
- Reconhecer e valorizar a flora espontânea - Muitas das plantas chamadas daninhas, que crescem à nossa volta, no meio da horta ou em qualquer fresta de muro ou beira de caminho são afinal plantas que merecem ser valorizadas mos descobri-las, identificá-las e valorizá-las, construindo herbários, desenhando-as, levando-as para a horta e para a cozinha. Afinal o que é uma erva-daninha?
As XXX Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental realizaram-se entre os dias 19 e 21 de abril, nas Caldas da Rainha. O evento contou com o apoio da GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente), Associação PATO (Associação de Defesa do Paul de Tornada), QUERCUS, LPN (Liga para a Proteção da Natureza), SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia), Geoparque do Oeste, Águas do Tejo Atlântico e com cofinanciamento do programa Erasmus+.
12 mandamentos: reflexão disruptiva
- A ação ambiental num determinado contexto tem uma morosidade indefinida no resultado e respetiva visibilidade neste paradigma VUCA em que vivemos – Monitorizar, Persistir, Manifestar e Multiplicar.
- As “policrises” socioambientais, civilizatórias, planetárias e climáticas exigem uma mudança mais radical no caminho da materialização das “comunidades de cuidado da vida”.
- Descolonizar a sociedade moderna do poder económico hegemónico vigente e político que está dependente de centros de poder OMNIPRESENTES.
- Mobilizar a juventude na cocriação de novas formas de ações concretas, com facilitação das ONGs e demais agentes na influência, revisitação e formulação das políticas públicas locais, regionais, nacionais, europeias e internacionais – com resposta efetiva dos decisores políticos e dirigentes.
- Expressões artísticas como instrumento de motivação e criação livre para e com a Educação Ambiental, por forma a gerar laços sociais e afetivos com os princípios e valores da Educação Ambiental – como compromisso para as ações vindouras.
- Os hábitos, costumes e tradições modus operandi podem e devem ser questionados e alterados quando geram passivos ambientais.
- A comunicação em Educação Ambiental deve utilizar uma linguagem inovadora e empática direcionada aos diferentes ecossistemas sociais.
- Estamos numa situação de emergência socioambiental que requer repensar a visão, missão e práticas de Educação Ambiental.
- A emergência climática conduziu-nos a um estado de urgência em que temos de acelerar as respostas educativas e sociais, i.e., temos de declarar um estado de exceção pedagógica e multiplicar os recursos de Educação Ambiental.
- Potenciar os enfoques comunitários para conectar as perceções e emoções das pessoas sobre a emergência climática, com aspetos significativos e relevantes das causas e consequências das alterações climáticas.
- Incluir a equidade de género e intergeracional nas respostas socioeducativas à crise socioambiental.
- Vivemos um momento disruptivo e, como tal, temos que pensar igualmente numa Educação Ambiental disruptiva.